sexta-feira, 18 de março de 2011

Forças de Gaddafi continuam atacando e França diz que está tudo pronto para ação militar

18/03/2011 - 14h27

Do UOL Notícias* 

Em São Paulo


A Líbia decidiu nesta sexta-feira (18) encerrar todas as operações militares depois da resolução aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU, autorizando ataques aéreos contra o regime. O anúncio, no entanto, foi considerado um "blefe" pelos opositores de Gaddafi, já que as forças leais ao dirigente líbio Muamar Gaddafi continuam atacando.
Segundo Jaled Al Sayeh, membro do conselho militar da insurreição em Benghazi, os rebeldes líbios estão coordenando com os países ocidentais os alvos que deverão ser atacados nas incursões aéreas contra as forças de Gaddafi. 
Outro comandante dos rebeldes líbios, Khalifa Heftir, declarou que o cessar-fogo anunciado pelo regime "não era importante" para a oposição. "Gaddafi está blefando. Gaddafi nunca diz a verdade. O mundo inteiro sabe que Muammar Gaddafi é um mentiroso. Ele, seus filhos e sua família, e todos aqueles que estão com ele são mentirosos", disse.
O chefe da diplomacia francesa, Alain Juppé, afirmou que tudo está pronto para uma ação militar na Líbia.
Uma cúpula prevista para este sábado permitir analisar a declaração de cessar-fogo de Trípoli, mas a União Europeia (UE) já está examinando os detalhes do anúncio de trégua do regime líbio, disse a chefe da diplomacia do bloco, Catherine Ashton.
"Estamos examinando os detalhes para saber qual é o significado do cessar-fogo e de que forma pode influenciar na situação geral", afirmou, lembrando que a comunidade internacional exige a saída do coronel líbio Muamar Gaddafi e o fim de seu regime.

Crise na Líbia




Foto 10 de 35 - 15.03.2011 Tropas que apoiam Muammar Gaddafi avançaram em direção à cidade de Brega, enquanto continuam os bombardeios promovidos pelo regime líbio sobre a vizinha Ajdabiya, a última cidade em poder dos insurgentes antes de Benghazi Mais Goran Tomasevic/Reuters

Civis

A ONU expressou nesta sexta-feira sua preocupação pela possibilidade de que o regime de Gaddafi exerça represálias contra os civis, num momento em que comunidade internacional discute as modalidades de uma intervenção militar na Líbia.

"Estamos muito preocupados com as represálias contra os partidários da oposição, que poderão ser cometidas pelas forças pró-govenamentais e agentes da segurança na Líbia", declarou Rupert Colville, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos. "Ninguém sabe o que acontece nas cidades que estavam antes em mãos da oposição e que foram reconquistadas pelas forás do governo", acrescentou em coletiva de imprensa.

Colville indicou que o Alto Comissariado "está muito preocupado com o fato de que o governo (de Gaddafi) possa exercer um castigo coletivo", enfatizando que "não há ilusões sobre o que este regime é capaz de fazer".
Autoridades da ONU afirmaram nesta sexta-feira (18) que 300 mil pessoas já fugiram da Líbia. A população teme que as represálias piorem com a ameça das potências mundiais de atacar o país. Segundo a porta-voz da agência de refugiados da ONU, Melissa Fleming, os números permanecem estáveis, com cerca de 1.500 a 2.500 pessoas por dia atravessando as fronteiras de Líbia, mas a situação pode piorar.
A ONU indicou ainda que não conseguiu um acordo com a Líbia sobre as condições de envio de uma missão humanitária. O coordenador humanitário das Nações Unidas para a crise líbia, Rashid Jalikov, viajou ao país conversar em particular sobre as modalidades de envio de tal missão.
Durante sua visita, Jalikov notou que uma parte do governo "falou de sua vontade de permitir um acesso às agências humanitárias", indicou à AFP a porta-voz do Departamento de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA) Elisabeth Byrs.  "No entanto, nenhum acordo final foi concluído quanto à maneira como um organismo interagências de avaliação de necessiades poderia atuar", concluiu.

Intervenção militar

França, Reino Unido, Qatar, Dinamarca e Noruega confirmaram na manhã de hoje que participarão das intervenções militares na Líbia. As operações internacionais, que incluem ataques e a implementação de uma zona de exclusão aérea, acontecerão "rapidamente... em algumas horas", segundo o porta-voz do governo da França, François Baroin. 
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse que vai julgar Gaddafi por sua ações no solo e não por suas palavras e indicou que não pretende recuar.
Em resposta à decisão da ONU, Gaddafi disse que transformará em um inferno a vida de qualquer um que atacar o país, depois que a ONU autorizou ataques aéreos contra as forças do governo. "Se o mundo ficou louco, nós também ficamos. Responderemos. Suas vidas se transformarão num inferno", disse ele à rede de TV estatal RTP. "O que é este racismo? O que é este ódio? O que é esta loucura?", afirmou.
Já Saif al Islam Gaddafi, um dos filhos de Gaddafi, afirmou hoje que a Líbia não tem medo da intervenção militar. "Venham! Não vão ajudar o povo se bombardearem a Líbia para matar líbios. Destruirão nosso país. Ninguém está feliz com isso", disse ele, de Trípoli, ao programa News Nightline, do canal americano ABC.
Segundo o correspondente da BBC em Paris Christian Fraser, a França pode enviar à Líbia jatos Mirage que estão posicionados em bases militares na ilha da Córsega. Outros aviões franceses posicionados na costa do Mediterrâneo, com ajuda de sistemas aéreos de alerta e controle, têm sido enviados a missões específicas 24 horas por dia desde quinta-feira da semana passada. Ainda segundo Fraser, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, já defendia ataques "cirúrgicos" nos bunkers de controle e nos sistemas de radar de Gaddafi e não descarta realizar bombardeios contra forças líbias em terra.
A Royal Air Force britânica também se prepara para agir. O ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, disse que a resolução constitui uma "resposta positiva à chamada da Liga Árabe" e que "é necessário tomar essas medidas para evitar um maior derramamento de sangue".
Segundo fontes ouvidas pela BBC, é improvável que os Estados Unidos participem da ofensiva no início, que devem ter apoio logístico de nações árabes. 
Já a Itália está disposta a ceder três de suas bases militares no sul do país para a intervenção. Por enquanto, o governo de Silvio Berlusconi, segundo a imprensa local, descarta a possibilidade de aviões italianos participarem das ações, porque a Itália era antiga metrópole da Líbia, país com o qual assinou um Tratado de Amizade em 2008. Mas, sempre que seus aliados da Otan solicitarem, o governo italiano prometer estar disposto a permitir que os aviões da Aliança operem desde suas bases no sul do país, as mais próximas do território líbio.
O Conselho de Segurança aprovou na noite de ontem uma resolução que permite "todas as medidas necessárias" para proteger áreas civis e exige um cessar-fogo de Muammar Gaddafi, que anunciou uma ofensiva militar contra Benghazi, a principal cidade dos rebeldes. O texto foi aprovado com 10 votos dos 15 membros do Conselho.
A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) deve debater nesta sexta-feira seu papel nas operações em uma reunião do Conselho do Atlântico Norte, que reúne os embaixadores dos 28 países aliados. Já Alemanha, China e Rússia, membros permanentes do Conselho de Segurança, se abstiveram da votação e não pretendem participar das ações.

Crise no Oriente Médio e países vizinhos

* Com agências internacionais.

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